Assessor de imprensa, Domingos de Ramos recebeu um telefonema emergencial para fazer uma cobertura na semana precedente a Páscoa.
- Aqui é Domingos de Ramos. Quem fala? – disse com uma voz arrastada pelo sono.
- Aqui é o Editor Chefe do núcleo de Israel. Precisamos de você para fazer uma cobertura em Betânia. Lázaro, aquele ressurgiu dos mortos, estará lá para ostentar sua glória e fortalecer o marketing do Jesus.
- Ok, ok! Estou indo para lá agora, me encontro a poucos quilômetros – disse saltando de sua cama, indo em direção de suas vestes.
- Apronte-se, queremos exclusividade! Quero ser o primeiro a fazer uma chamada ao vivo. - E desligou.
Depois algumas horas, Domingos e seu cinegrafista haviam chegado no centro de Betânia. Avistaram um corredor adornado de Palmeiras, ou melhor, com seus ramos. A praça central de Betânia estava vazia, pois o sol ainda estava tímido no céu para o seu pôr. Ainda assim, os dois decidiram fazer uma chamada ao vivo, aproveitando o crepúsculo que começara alaranjar o céu.
Quando iniciaria chamada, eis que surge uma pessoa de barba e cabelos compridos, acompanhado de outros homens semelhantes, que pareciam o seguir. Eles pareciam chegar de viagem naquele instante, pois tinham em suas mãos algumas malas.
Apressado, Domingos foi entrevistá-los. Após o repórter perguntar o nome de todos, apenas o que parecia liderar o grupo falara altaneiro o seu nome completo seguido de sua filiação: “ O Filho de Deus: Jesus Cristo de Nazaré”.
- Estão aqui para ver o Milagre de Lázaro?
- O milagre não ocorreria senão por meu pai. Lázaro apenas creu em sua palavra.
“Creu? Mas ele não estava morto?” - Questionava silente o pensante Domingos.
- Sim, mas então o que vieram fazer aqui em Betânia? Continuou o repórter agora compartilhando seus pensamentos.
- Viemos para mostrar aos fiéis que somente meu pai é o caminho e a verdade! - disse retumbante em tom de pregação. Por sinal um bom orador.
Repentinamente, após os esclarecimentos de Jesus, o repórter e o cinegrafista matutos, ficaram On para a chamada ao vivo, e com as mesmas perguntas, Jesus se envaidecia nas respostas pela presença da câmera (um Robert, aparecido). Feliz ficara, pois sabe-se que a televisão é o melhor veículo de comunicação. E como seu pai não tinha cedido o patrocínio para o evento, com a justificativa de estar economizando para a Páscoa... Foi uma excelente oportunidade de divulgação.
A chamada foi um sucesso! Milhões de telespectadores se punham curiosos para ver o tal morto entre os vivos. E até em Jesus, eles agora detinham curiosidade. Quem será esse milagreiro? - Questionavam os seus futuros seguidores.
Jesus e seus “fiéis” escudeiros (Judas estava entre eles) caminharam até a casa de Lázaro, aonde foram muitíssimo bem recebidos.
Chegado lá, Jesus planejara com Lázaro uma entrada triunfal: “Nós podemos conseguir uma linda biga puxada por dois lindos cavalos brancos”. Ele já avisara ao Lázaro que tudo seria televisionado.
- Mas, filho de Deus (com todo respeito), você não disse que o onipotente não liberou a verba. O aluguel de uma biga é caríssimo. Minha família também não tem dinheiro para ajudá-lo, ainda que o devamos favor. E agora o que faremos? - disse o vivaz moribundo.
Jesus semi-serrou os olhos e pensava com um olhar vago. Parecia conversar com alguém. Talvez com seu pai.
- É. Realmente papai não vai contribuir para o comício, digo para a recepção.
- Tive uma ideia: Então, entre à pé, com desculpa de ser uma procissão!
- Lázaro, vejo o quanto foi útil sua ressurreição, digo... o quanto foi merecedor de sua ressurreição.
Horas depois, uma multidão aguardava inquietante pela presença de Lázaro. Aguardavam também por Jesus, o mediador do acontecimento. Sim, a entrevista havia surtido efeito: Jesus estava sendo endeusado, mas isso, por outro lado fazia emergir assaz ira nos fariseus.
Jesus conversava com o seu pai, de olhos fechados: “Pai, essa coisa de ressurreição foi uma sacada muito inteligente. Nunca vi tanta repercussão - olha que caminhei com Pedro sobre o mar e curei aquele mendigo da cegueira. Realmente, você estava certo. Com a minha morte se aproximando, prosseguida pela minha ressurreição, tenho certeza que obteremos êxito com tal façanha: se o impopular Lázaro conseguiu encher essa praça no dia da minha visita, o que acontecerá no meu jazigo se gozo da popularidade por ser seu mediador (no planejamento de marketing para o futuro Cristianismo)?”.
Lázaro interrompe a conversa de Jesus. Disse que poderia conseguir um meio de transporte com um amigo que mora próximo. Aproximando-se da casa (humildíssima), Cristo se alarma: “O seu amigo é um tanto... como dizer... pobre. Que meio de transporte podemos conseguir com ele?” Foi só terminar a pergunta e um jumento saiu por de trás de uma robusta moita. “Você não pretende que eu desfile num...” - disse Jesus.
- ...Jumento – completou Lázaro. Pense um pouquinho: entrar como uma Cinderela antes da meia-noite despertaria ainda mais a ira dos fariseus. Além do mais, posar de humilde é bom para sua campanha. Mais uma coisa: ninguém monta um jumento, você será o centro das atenções por um bom tempo.
Conformado, Jesus foi persuadir o amigo de Lázaro para o empréstimo do animal. E conseguiram, claro. Minustos depois, ao se aproximarem da multidão, Jesus montou o híbrido muar e Lázaro antecipou sua chegada. Apresentou Jesus Cristo para a multidão, ostentou o milagre e o milagreiro e por fim, anunciou sua entrada.
E da estrada emerge os dois: A mula e o Cristo. Jesus em meio de tantos vai-e-vens permeados pela marcha trôpega do animal, deixara sua mão ereta no ar, quase bailando um tchau - gesto social clássico dos políticos.
Jesus se emociona com os numerosos ramos que se agitaram com sua chegada – haviam sido sua exigência para a festividade que precede a páscoa - o domingo de ramos.
E ele dá continuidade à procissão. O Filho-de-Deus, loquaz como só ele, questiona toda a multidão sobre o que representaria aqueles ramos que tanto exigiu. Alguns poucos tentaram responder, mas sem sucesso. Então Jesus findou o seu desfile com um belo discurso que fora transmitido ao vivo em rede nacional.
“Eu sou a videira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda. Vós estais limpos pelas palavras que os tenho falado; permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira, assim, nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo e o queimam. Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito”(João 15.1-7).
A multidão ficou boquiaberta, e além dela, o agnóstico repórter de campo. Seduzido pela grande eloquencia do divino homem, Domingos ajoelhou-se e cabisbaixo disse ao seu cinegrafista:
“Nunca presenciei tanta persuasão em nenhum discurso outrora ouvido. Eu que olvidava de Cristo, agora reconheço sua força. Como pode uma pessoa dar tanta vida para tão simples palavras? Sim, somente ele. Por possuir, acima de tudo, fé em seu pai. Assim, pode conseguir tudo o que quer, como ele mesmo disse. Confio nele, é realmente este o verdadeiro caminho. Bendito seja!”
Enquanto Domingos sussurrava “Hosana!” por trás da câmera, os fariseus também comentavam sobre a loquacidade do discurso de Jesus. A cada um daquela multidão que se tornara adepto aos dizeres de Cristo, mais ódio crescia exponencialmente no coração dos fariseus. Mas, Jesus sabe o que aguarda. Sabe ainda, que seu futuro sacrifício será recompensado.
Ousado, longo e hilário! Não me surpreendo com sua forma de gozar de uma pessoa tão respeitada. Ainda bem que nos livramos da fogueira! rsrsrs...
ResponderExcluirEssa versão do ocorrido me convenceu... parece até resposta a uma conversa que tivemos outro dia... será que foi isso mesmo que aconteceu? Enfim... quem vai saber?
Em suma deus sabe o que faz! rsrsrsss...
Aplausos!
PS.: Jesus pareceu meio bichona com aquele bailar de mão lá no texto, mas... Ele não vai esquecer disso no dia do juizo! rsrsrs
Nossa jonatan dava pra ter resumido este texto quase um livro...rsrs..bjus tá ótimoo
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