UM GOLE DE IDEIAS

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.: Um Gole De Ideias :. -> Dois anos no ar!

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sábado, 30 de outubro de 2010

Eles são mais felizes

Eles são melhores que você. Conversam sobre os melhores livros, filmes, assuntos. Estão redados de pessoas tão interessante, que faria Marilyn Manson parecer careta. Estudam em universidades graduadas. Namoram as mais belas garotas que compõem o estrelato da sociedade. Estão sempre bem vestidos e inventam moda, quando a mesma já não lhes cabe. São santos e devassos.

Caminham como se fossem reis de um império sem limites, falam como se as palavras fossem inventadas para serem faladas por eles, posicionam-se como se o mundo se prostrasse diante de olhos tão ávidos. A sorte não os escolheu. Foram eles que a subjugaram. Impedem que chova, que faça sol, que as lágrimas desçam. São semideuses.

Eles são mais felizes que você. Quando a felicidade lhes falta, alegram-se na tristeza. Até em suas lamúrias são mais categóricas, mais nobres, mais invejáveis. Eles não precisam de nada que possuem nem ostentam o supérfluo que pertencem. São humildes e orgulhosos. Trabalham com agilidade e permutam ódio e amor.

Eles sempre foram heróis em suas próprias histórias, reis em seus próprios sonhos, guerreiros em suas próprias batalhas. São grandes em tudo que pensam e fazem. Realizam seus grandiosos projetos com astúcia e invejável eficiência. Prevalecem quando as tormentas da vida afligem suas sutis casas elevadas em terreno arenoso.

domingo, 24 de outubro de 2010

ESTÚPIDO CUPIDO


Por Zeus! O teu estado de saúde é gravíssimo! Perdoe-me pelo acontecido... Eu só queria mesmo ajudá-lo, dando-lhe amor. Juro pelos deuses que, em momento algum, as minhas flechas visavam feri-lo, ainda que eu mirasse o teu coração.


Exagerei nas doses de amor, eu confesso! Mas, em todos estes séculos como cupido, nunca peguei caso como o teu: possuíste uma barreira impenetrável, uma barreira anti-amor. Ao comunicar isto ao meu chefe supremo, ele, com a maldade que lhe é própria, ordenou que eu aumentasse minha precisão e o concentrado de AMORAX, além de persistir em você. Veja agora aonde terminou a minha obediência: num mar de lágrimas. Acabei despertando o mau do milênio: a depressão.


Nem como arcanjo posso tomar juízo do quanto sofreste, entretanto imagino o que deveras sentir. Ouvi dizer que é maior que o mundo: a dor do amor é maior que tudo. Ainda assim, nada poderei fazer para auxiliá-lo. Pare! Pelo amor de Deus... não me culpe, por favor! Já disse que não queria destruí-lo, tampouco fui o mandante da missão.


Sei da tua vida estava tranqüila na solidão, no entanto, não era esta a vontade do Deus. Não era da vontade dele que alguém gozasse da felicidade sem ao menos saber o que é amor. Ninguém precisava escolher nada por você, eras tu somente quem podia trilhar teu caminho. Isso era invejável.


Ultimamente tem sido complicado seguir a profissão de cupido. Antes era alimentado pelo desejo que a humanidade tinha por amar, atualmente sou apenas um estorvo para a vida contemporânea. Os cupidos estão sendo considerados tão chatos quanto os operadores de telemarketing ativos (aqueles que fazem cobranças). Todos correm de mim e das minhas flechas, assim como as pessoas não querem receber telefonemas para serem lembradas do vencimento da fatura do seu cartão de crédito. O motivo: ninguém mais quer saber de amor! Ele é incômodo, numa sociedade aonde o sexo circula livre. Não é preciso encantar para obter o sexo, basta ter vontade. Desta forma, minha profissão padece com sua desvalorização.


Antes eram centenas de casais formados diariamente, atualmente é raro formar um que seja. Zeus chegou até a abrir mão da diversidade dos sexos, agora atiro em todos: formo pederastas, pedófilos e tudo mais que era anteriormente visto como intangível. Mas o teu caso é raro, pois nunca vi alguém sofrer tanto com o amor... possuíste alguma alergia ainda não identificada, talvez. Tampouco, vi alguém entrar com recursos contra Zeus, recorrendo ao próprio Diabo, por causa de amor. O acusa de perseguição devido o roubo de seu estado pleno de felicidade sem seguir preceito divino algum: nunca foste à missa, não se batizou, o casamento nunca foi nem sequer imaginado e, antecipadamente, optas por não ser velado quando sucumbir.


Enfim, tu viveste uma vida tranqüila, apesar da distância para com Zeus... isto até o dia que eu fui enviado. Resistiras às primeiras flechadas... no entanto acabou se rendendo. Agora você ama sem vontade própria e quer terminar tudo de maneira trágica: uma flechada da morte para silenciar o sofrimento.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

See beautiful, intentions do not know*

Matéria publicada no The New York Times


*Bonitos vemos, intenções não sabemos

O Instituto de Psiquiatria e Comportamento Humano de New Orleans, publicou recentemente um estudo, digamos, pouco convencional para a universidade. O estudo nada mais é que a associação entre pessoas bonitas e desvios de conduta moral. Ethan Tompson, doutor e professor em neurociência comportamental, liderou mais outros cinco cientistas na busca de resultados para o projeto.

Para chegar à conclusão que obtiveram, dois grupos distintos – um de pessoas aparentemente bonitas e outro nada atraente - tiveram seu código genético mapeado e eram observados em situações cotidianas, como em relacionamento, trabalho e estudo. Após o seqüenciamento de seus DNAs e as anotações que psicólogos faziam, dados foram cruzados. Constatou-se que 88% dos homens bonitos possuíam uma deficiência no gene AHTE23Q, responsável pela enzima que controla o transmissor neural chamado serotonina.

“Pessoas com baixa produção de serotonina, estão pouco satisfeitas com sua rotina”, diz Ethan Tompson. “Estão propensas a trair ou magoar seus parceiros sexuais com mais facilidade”. Edgar Muphrey, coordenador do Instituto da Ciência do Comportamento, da Universidade de Nova York , diz estar “estarrecido” com os resultados publicados.

“Isso abre outro modo para o preconceito”, afirma Muphrey. Para ele, pessoas bonitas estarão suscetíveis a análise de comportamento com base no estudo, antes que qualquer relacionamento seja estabelecido. Muphrey acredita que o estudo é “tendencioso” e “questionável” demais, para ser publicado sob o nome de uma universidade respeitável como a de New Orleans.

Em entrevista a um tele-jornal, Ethan Tompson rebateu as críticas de Edgar Muphrey. Tompson disse que o relatório final estava isento de “opiniões preconceituosas”. Nada do que fora publicado tem a ver com sua vida e projetos pessoais. “Então, quer dizer que nenhuma garota vai querer se relacionar comigo, depois que você afirmou isso?”, brinca o âncora do jornal, Steve Noan – belo, diga-se de passagem. “São elas que devem responder se estão preparadas para uma decepção”, finaliza Tompson transbordando ironia.

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Texto meramente ficcional. Os nomes dos personagens e suas respectivas atividades foram criados pela mente perturbada do autor do texto. Nada deve ser levado a sério – uma pena.

sábado, 16 de outubro de 2010

arte e sangue

Hoje, depois de um longo hiato comigo mesmo, sentei-me ao piano. E ao soletrar algumas notas meus dedos tateavam um dó menor diferente. Menos triste talvez. Mas isso não é nem de longe a causa mor da felicidade, talvez seja eu mais triste que o pobre dó desta vez.

A mão que pressiona suavemente aquelas teclas amadeiradas mal fazem falta a outro par de mãos. A solidão me pesa e pende um sacrifício interior de exposição do desespero. A música exagerada segue soando nos meus ouvidos e ganha corpo diante da minha voz muda.

Anuncia-se o tempo vago. As notas passam por mim não mais eu por elas. Mal sei o meu papel neste momento. Acalento cada uma que roga pelo meu intento. Adormeço a fadiga do mundo que ainda hoje tiveram junto de mim. Cada nota leva consigo um pedaço meu.

Não sou mais matéria, divido com a música o poder do abstrato. Penso na ideia do mundo e o quanto significa esta música. Penso quanto significo a mim mesmo e a meus próximos. Não penso mais... a resposta de mim já vem torcida enquanto a música segue linda.

A arte não é entretenimento... pinga sangue em cada frase, tela, movimento, cor... Não sou e nem queria ser poeta. Dói. Tenho pena dos que tiveram a pena nas mãos... Saltam de mim umas notas que eu mesmo não entendo. Hoje meu mundo que era sol descansa em dó menor.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Tempo, tempo, tempo, tempo...

Ainda ontem tive a solução para minhas indagações, mas esse estalo criativo não é aplicável hoje. Deixa ser como será. No futuro a cura e para o hoje as enfermidades latejam. No plano político boas novas que ancoram no quando. Quando for eleito, quando vencer as eleições, quando que nunca chega.

Chegam as rugas que justificamos com experiências adquiridas. Chegam os arrependimentos que nos torna melhores amantes e alunos. Vem a vida com tropeços evidentes e ela segue sempre rumo a um eterno “pode ser”. Calados nessa clausura temporal justificamos, racionalizamos uma abstração que nem nos damos conta. O tempo, essa convenção criada por nós – homens, nos fixa a taxa de imaginação constrangida.

A minha memória recente é meio embaralhada. Às vezes vivo como se tivesse apagado um passado, às vezes sou todo futuro... às vezes CARPE DIEM. Que espécie de tempo me rege? Talvez o mesmo tempo inconcreto das promessas, ou ainda dos apressados encontros amorosos e ocasionais. O mesmo minuto de quem ama não pode ter mesmo valor de um segundo de tortura. O tempo é quase que subjetivo... se não fosse as horas, minutos, segundos.

Gastei vinte e cinco anos de experiência pessoal para concluir o que agora escrevo em menos de dez minutos. Você entende e desdiz o que eu disse em menos de cinco. Quanto mede uma dor pela perda de um ente querido? Quanto tempo para me tornar uma pessoa feliz? Que tempo tem? Quanto tempo já existiu? Tempo, tempo, tempo... Felizes os que habitam a esfera menos preocupada que chamam loucura. Felizes os filósofos que admitem e se satisfazem com as perguntas.

Para os comentários: que espécie de tempo te rege? (momento café filosófico, participem!)



Esse texto surgiu a partir da música "Oração ao tempo" de Caetano Veloso que aqui ouviremos a versão fundida ao poema "Poética" de Vinícius de Moraes na voz de Maria Bethânia.

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