A épica busca para eu ter um coração em nada se compara com os infortúnios posteriormente adquiridos assim que consegui um. Ele bate, pulsa e compromete minha dignidade. Correm razões, inflama reflexões e eu já não sou mais o mesmo homem de lata de sempre, ainda abafando os sussurrantes pedidos que vem de um peito metalicamente oco.
Por causa da inconstância de seus movimentos – ora manso como um sossegado e musical passeio pela estrada de tijolos amarelos, ora arrítmico e tenso como uma tempestade de verão – perdi dois parafusos. Não sei ao certo se os perdi ou se eles nunca existiram nessa cabeça-chaleira que fervilha emoções profusas. Ando ameaçado por um sentimento novo: remorso.
Ele parece ter vontade própria. Atrai quem ele quer, ama quem ele quer e se entrega a quem ele quer. Para um boneco de lata com um coração lascivo, pareço um escravo eterno dos desejos que habitam em mim. Temo que uma marionete ou um peso de papel viva mais feliz que eu. A inveja surgiu na semana passada. Devo me acostumar a ela, visto que ela tem me visitado constantemente.
Deixei de me recarregar para para ver o que poderia me acontecer. Mas, insistentemente, ele ecoa dentro de mim um instinto visceral, uma vontade involuntária, a energia suficiente e necessária para manter-me vivo e à mercê de uma avalanche de prazeres sombrios ou nobres, de acordo com os resultados estampados em outras faces.
Muitos me perguntavam como eu reagia diante das dificuldades que eventualmente aparecia nas minhas articulações ou em qualquer outra parte do corpo, como quando emperrara e não saía do lugar. Era difícil e estranho no começo, eu confesso. Mas tudo se ajeitava. Agora, penso que óleo e chaves de fendas consertava parafusos e dobradiças, mas o que pode dar um jeito em um insensato coração?
"Nenhuma verdade me machuca
ResponderExcluirNenhum motivo me corrói
Até se eu ficar
Só na vontade
Já não dói
Nenhuma doutrina me convence
Nenhuma resposta me satisfaz
Nem mesmo o tédio
Me surpreende mais" Pitty - Deja vu
No meio das coisas acabo sendo um pedaço... no meio dos ressentimentos acabo por me unir...o caos sempre faz sentido.
E do conflito surge ideia e vira gole. Está aí a beleza da coisa. O quanto podemos transformar o tédio em poesia.
Obrigado pelo gole! Parabens!
Pois é... Inocente Gole-de-lata (batizei ele assim, tah?!): queria se intrometer nesta tão amarga vida humana, repleta de sentimentos e veja no que deu - ele se f**** (rs) Ser humanizado (personificado na literatura) não é fácil, pois é preciso compartilhar das inconstancias da vida.
ResponderExcluirMas coitado do Gole-de-lata, foi humanizado e percebeu o quanto isto eh complicado... e pior: ele ficou tão humano que começou a ficar com o corpo biologicamente parecido: Perder os parafusos ou nao vir com eles de fábrica é pré requisito pra nossa (DES)humanidade. rs
Adorei o GOLE... Tem muita moral nisto aí, hein?! Ao menos o Gole-de-lata tem consciencia dos sentimentos que estao emergindo em seu peito metalico... e nós? que nem nos damos conta do que se passa conosco - muitas vezes?
Adorei o gole made in japan, robótico...
Um gole quente e, que fermenta emoções (sake)
"Agora, penso que óleo e chaves de fendas consertava parafusos e dobradiças, mas o que pode dar um jeito em um insensato coração?"
ResponderExcluirA resposta é: Amor. Ah, esqueci, você não acredita nesse tipo de amor, né? Sei que é difícil... Já sofri muito por causa disso, mas faria tudo de novo... Se abra para o amor, Alexandre! rs
Parabéns!
Abraço!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirUm mal que insiste em nos perseguir, até quando irá durar esta saga?? Porque o mundo num é como as coisas parecem ser: simples...essa busca do inesperado amor às vezes vem sem querer, sem avisar, sem ser convidado, quem o chamou?? Ele não nos deixa em paz porque somos dependente de amor ??Eu poderia mandar um foda-se dizendo quem manda aqui sou eu, então vá embora na hora que eu mandar e não quando vc quiser, parece até que tens vida própria...mesmo assim não me abandone meu vício e minha cura, eu preciso de vc a todo instante pra lembrar que estou viva...Xandy seus textos tão maravilhosos me dão uma certa sensação de leveza tão aconchegante que fico nas nuvens com pensamentos muitos deles para refletir e pensar melhor nessa vida...obrigada por vc existir e me dar elixir de ideias, grandes goles me contentam por enquanto este insasciável e eterno vazio que há e precisa ser completado por muitos outros mais...bjus e vc é demais
ResponderExcluirLELE....ADOREI SUA LINHA DE REFLEXÃO.OS TEXTOS QUE VOCÊS ESCREVEM SÃO DE MUITO BOM GOSTO E MOSTRAM O QUÃO APAIXONADOS VOCÊS SÃO PELO SER HUMANO E SEUS TÃO INCONSTANTES SENTIMENTOS.
ResponderExcluirSHAKESPEARE DISSE:
¨... MOSTRE-ME UM HOMEM QUE CONSIGA CONTROLAR SUAS PAIXÕES E EU O SEGUIREI...(HAMLET)
BEIJÃO.
Adorei a crônica "Eu tentei me consertar"!
ResponderExcluirContinue escrevendo, pois você tem futuro nisto.