UM GOLE DE IDEIAS

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segunda-feira, 21 de junho de 2010

O ano de morte de José Saramago


Data da última sexta a falta que sinto de um amigo que me falava sempre de coisas interessantes. Vivia com a ideia dele por mais tempo, a palavra sobrevive ao momento de fechar o livro, Não, não conheci pessoalmente esse senhor de vida reclusa, Conheci-o como todas as outras pessoas de bom tino, através de seus livros, Não sou fã daquela reverencia póstuma que é muito comum por aqui, mas neste caso, falo de minha admiração sincera e já aniversariante em mim mesmo, Penso agora como seria a morte para um ateu, Digo, como seria a morte para quem vive bem com a ideia dela, Saramago já disse em entrevista que poderia viver mais uns dois ou três anos, Já disse que a bíblia é um livro de maus hábitos, Foi comunista, Enfrentou o próprio país, notoriamente católico, com o famosíssimo “Evangelho segundo Jesus Cristo”, Recebeu merecidamente, o primeiro e até agora único, Nobel de literatura em língua portuguesa, Por tudo isso, ele ganha status de coisa contada, saí hoje do mundo e vira ideia... Sepultamos o corpo de um substantivo concreto, Encerram-se a quantidade de volumes assinados por ele em nossas estantes, A literatura mundial fica desnorteada, Vive a força de uma boa obra de arte, aquela que sobrevive ao tempo, Um bom livro é novo a cada leitura, Saramago nos deixa seus enigmas e histórias, numa vasta e lindíssima obra.

Agora já não mais adiantam os aplausos e os prêmios, fica para os vivos suspeitarem e criarem o que possivelmente ficou oculto, o que possivelmente nos ensinará mais, e que poderá render copistas pretensiosos... A literatura ganha um novo capítulo concluído e nós, leitores perdemos a identidade. Já não é possível esperar que retratem nosso mundo com tanto primor. Ave Saramago!

“Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal” (Fernando Pessoa)


Hoje o mar fica ainda mais salgado...

10 comentários:

  1. O mar fica mais salgado pela lágrima que se mostra na face da literatura! Pela perda de uma mente brilhantes com idéias e sabedoria espetaculares.
    Amigo, obra prima de gole, dourado e liqüefeito, parecendo puro ouro.
    Seu talvez mais inspirado livro, não pode concorrer a nenhuma premiação - “Evangelho segundo Jesus Cristo” - por que ainda existe preconceito e repressão.

    "Penso agora como seria a morte para um ateu" - Talvez seja a idéia de um cristão ao contrario, sem hipóteses, leis, regras, e lugares destinados de acordo com o comportamento humano de cada um.

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  2. Pois é, nem sei o que comentar... Não sei se eu comento o texto ou se comento o fato. Esta crônica que muito mais soa como uma homenagem que oferece um continuum ao Saramago do que nos deixa pesarosos...

    Eu que nunca endeuso ninguem... fiquei momentaneamente entristecido pelo fato de perdermos boas obras (isso é egoismo). Mas o homem que se isola em seu mundo, ou ilha, ou mente, merece nossa saudosa memória. Agora só cabe a ela colher os frutos póstumos que guarnece de valor todos os autores. Sorte a dele (fico realmente feliz) ter sido reconhecido ainda em vida.

    Ave Saramago!!! Eterno abraço!!!

    _______________________

    Não posso deixar escapar a estrutura textual a la Saramago. Muito boa, muito nostalgica (já nostalgica)... Saramago se orgulharia. Pena que ele não lerá os nossos Goles, mas tomara que ja os tenha lido. rs

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  3. "Penso como seria a morte de um ateu (e dos demais)".

    Segue a morte entre parênteses: ( ).

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  4. Desta vez, você se superou, meu caro... parabéns! Ave, Fabrício!

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  5. Não, adiantam sim os "aplausos e os prêmios", e decerto não serão direcionados a "copistas pretensiosos".
    O texto enquanto texto, provoca a inércia de seu autor, o que gera o nascimento de leituras diversas.
    A poética moderna há mto já desbanca o império do autor, e cria-o como fato social, a unidade mítica é o que dá sentido à narrativa, e essa unidade é tbm chamada "leitor".

    Saramago fará falta pelo simples, ou não tão simples assim, fato de não poder criar mais textos incríveis que despertem a literalidade de tantos leitores.


    "[...]desde que um fato é contado, para fins intransitivos, e n~/ao para agir diretamente sobre o real, isto é, finalmente, fora de qualquer função que não seja o exercício do símbolo, produz-se esse desligamento, a voz perde sua origem, oautor entra na sua própria morte, e a escritura começa[...]".


    *A morte do autor - Roland Barthes


    P.s.: é óbvio que ele já faleceu tbm, e sua obra está viva.


    Cléo Cassim

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  6. dorei a homenagem. "A palavra sobrevive ao momento de fechar o livro". Agora Saramago virou palavra e vai perpetuar a ideia de que palavras e ideias são à prova do tempo. Legal ter escrito o texto de forma à Saramago, não é verdade?! Homenagem dupla, rs... Bem, agora só falta a Fernanda Young e a... Deixa pra lá! Bom texto, Fabrício!

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  7. “Ó mar salgado, quanto do teu sal
    São lágrimas de Portugal”(Fernando Pessoa - Mar português)

    Este poema do Pessoa fala das expedições marítimas que cruzaram o mar português, especialmente a de Vasco da Gama, que teve muito poucos sobreviventes. História belíssima contada com maestria por Camões em Os Lusíadas.

    Agora me aparece essa referência ao Saramago. Não poderia mesmo ser diferente e ter menor importância.
    As expedições de Vasco da Gama abriram novos caminhos térreos, as ideias e palavras de Saramago abriram novos caminhos intelectuais. Ambos geraram enriquecimento da própria nação lusitana e reconhecimento mundial.
    Ave, Saramago!



    Fabrício e Alexandre, parem de espalhar essa historia de FY e a...!rs

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  8. Saramago nasceu agora para o grande mistério que ele sempre recusou.
    Não há o que lamentar,não há o que pesar.Morre a carne,mas a idéia dele está viva eternamente.INCONTESTAVEL
    Gente assim não morre mesmo que queira.
    Ai você questiona como deve ser a morte de um ateu.Querido, este ato de ,fisicamente,deixar de ser nos nivela.DE Saramago ao Papa,o átimo de segundo que há entre o se chama “vida” e o se chama “morte” ,é terrivelmente - irresistivelmente...Só quem já experimentou poderia completar,lógico.

    "(...)Há coisas que nunca se poderão explicar por palavras."
    (josé saramago)

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  9. Fabrico,pensei melhor e pelos ateus que conheço,posso lhe dizer que vivem em busca de uma prova irrefutável da existência de Deus.Os ATEUS querem Deus mais que tudo.A morte de um ateu,meu querido,é pura esperança...Pura esperança!

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Muito obrigado pelo seu comentário (dose)!

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