Hoje falarei sobre um menino, o qual respondia pelo nome de... Bom, o seu nome não importa, leitor. Mas uma coisa eu garanto: esse menino não sou eu, claro. Como bom narrador que sou, estou repleto de informações fumegantes e , aqui, apenas explicitarei resumidamente tudo o que me contaram e presenciei. Não, isto não é em gozo uma biografia, tampouco um diário! Mas um breve recorte sobre a história de um menino que "roubava" manchetes.
Aos dez anos, o tal menino era um menino como outro qualquer. Gostava de brincar, assistir TV e frequentava a escola regularmente. A aula que mais gostava... não era bem uma aula: era o recreio – mas lá tudo se aprende. Tinha suas dificuldades com a gramática e a Física, mas nada demais. Realmente ele era um menino comum. Contudo, uma estranha vontade - ou seria sua curiosidade? - emergiu e um hábito se faria mister.
Todos os dias, pela manhã, ele passava em várias bancas de jornal e folheava numerosas revistas, lia manchetes completas, chegava a ficar quase meia hora em cada uma delas – tempo que estipulava para a sua presença. Como ele fazia isso? Ele tinha uma estratégia...
Seu horário de aula era vespertino, assim, suas manhãs que eram ocupadas desbravando revistas e jornais. O Menino, espertíssimo, criara numa breve pauta uma relação que continha o nome de catorze das trinta e duas bancas de jornal da sua cidade, para que fizesse um rodízio de visitas durante uma quinzena. O objetivo era fazer com que os jornaleiros não se recordassem da sua visita inoportuna, pois nunca comprava nenhuma revista de todas que folheava.
Na banca que se situava no quarteirão de seu apartamento, ele nunca abria revista alguma, pois o jornaleiro era conhecido de sua mãe. Era a Banca do Gole, grande Gole. Nesta banca ele apenas olhava as manchetes principais dos periódicos à amostra, sem tocar em nenhum exemplar. Feito sua “pesquisa de mercado”, ele sabia ao certo quais materiais seriam o seu alvo de leitura, deste modo perderia menos tempo. Pegava no bolso o seu papel que indicava as possíveis bancas do dia - duas. E fez isso por quatro, cinco anos...
Como conseqüência de sua compulsão quase inenarrável, suas notas melhoraram indiscriminadamente, pois a facilidade que havia conquistado para com a língua portuguesa, maximizou o seu raciocínio lógico e, assim, em todas as disciplinas obtinha êxito. Bem... Quase todas, pois as modalidades físicas foram ficando para trás, além do mais, o Menino começou a detestar futebol. Aos quinze anos, o Menino fundou, em conjunto de sua querida professora de Português, o Jornal da Escola – era coisa simples. Mas, isso era pouco pra ele.
Aos dezesseis anos conseguiu o seu primeiro emprego no Jornal da Cidade, desta forma suas primeiras revistas foram compradas, finalmente. Pródigo, seu primeiro livro foi escrito um ano e meio depois tendo sua publicação financiada por um programa da Secretaria da Educação. Fez o vestibular. Cursou Direito para agradar a sua mãe e durante sua graduação conseguiu publicar dois livros motivado e incentivado por um coordenador ancião que gostava assaz de suas colunas na Tribuna – jornal bimestral de sua instituição de ensino. Só os seus amigos compraram o seu primeiro livro e o seu segundo não vendeu muito, mas vendeu... o suficiente para que a editora o pressionasse para escrever mais exemplares – vigorou-se como escritor. Ainda assim, exercia Advocacia para possuir boa renda.
Quando completara vinte seis anos, o seu terceiro livro ganhou uma premiação estadual. Aos seus quarenta e nove anos, com seis romances escritos, três livros de contos e crônicas e dois ensaios jurídicos, ele conquistou uma cadeira na Academia preenchendo o vazio de um grande escritor o qual não me recordo do nome. Antes, aqui referenciado como um menino comum, sua vontade o tornou excepcional. Virou um menino singular com muitas conquistas.
Contudo, ainda que com tantos méritos conquistados, até hoje, eu não resisto quando passo por uma banca de jornal.
Bravíssimo!
ResponderExcluirUma crônica/conto/meio romanceada... ai ai! Me diverti aqui lendo, como aposto que você se divertiu escrevendo. A trama cheia de detalhes, que você chama de viagem, mas que dão um tom próprio aos teus escritos. Me orgulho por participar desse clube.
Valeu pelo gole!
E que não venha a saidera...
Além do conteúdo dos textos, o que mais me atraia em ler suas obras é o seu português afiadíssimo! Com palavras pouco usadas, mas de uma força fabulosa!Parabéns!
ResponderExcluirO começo do texto me fez lembrar um pouco o Carlitos (Charles Chaplin) com todo esse fascínio, esse tom lúdico!
Continue assim, principalmente com esse português afiado que é bom encarar (ler)!
Bom, sinto certo pesar em admitir que esse menino tambem nao sou eu. Gostaria muito de publicar um livro na idede que tenho e ocupar a cadeira na Academia antes dos trinta. O ruim nessas ficçoes é simplismente isso: o apego do leitor com a personagem central. Droga de cerebro, rs! Otimo texto, Jonatan! Voce sempre se supera!
ResponderExcluirPoxa, você sequer pediu minha autorização para publicar a história de minha vida, hein, Jonatan? rs
ResponderExcluirAdorei o texto, cara!
Prendeu minha atenção, de verdade!
Acho que todos nós, do Um Gole De Ideias, queríamos ser este menino...
Que inveja! rs
Ser um imortal talvez seja o objetivo de todos que escrevem, né?
Imagino nós cinco, de fardão verde, sentados lado-a-lado na sede, no Rio de Janeiro...
Que pretensão! rs
Mas seremos grandes, pode ter certeza!
Ótimo texto!
Parabéns!
Lucas@ - Não que eu seja teocêntrico, mas... Que Deus faça das suas palavras a realidade!
ResponderExcluirTodos@ - Muito obrigado pelos comentários! Sobretudo, João Rômulo... nunca tive pretensões a ser assemelhado pelo mestre Chaplin. Um comentário desses realmente é muito motivador para qualquer escritor. Muitíssimo obrigado!
Jonatan que belo e criativo, parece até o futuro de vocês escritores, só os amigos comprando os livros para ajudar? ou será porque é bom mesmo? Algo a se pensar...texto agradabilíssimo de se ler deixou aquele gostinho de quero mais goles...Parabéns.
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