Certa vez, na monotonia de domingo agravada pela solteirice e a infertilidade, o professor resolveu ir à missa após corrigir algumas avaliações.
Chegado lá, ficou perdido na sequência dos ritos católicos. Tudo que pode constatar foi arrogância autocrática, além de muita ignorância e o revezamento de ordens (“podem se assentar/levantar”) de um padre que evitava o sono desconcertante dos fiéis. Ao final, já nervoso com tanta hipocrisia, foi abordado por uma velha senhora:
- Meu jovem, percebi que ficou apático durante o sermão. Anuía com a cabeça a todo instante, negando a "Palavra". Por acaso, não acreditaste em Deus?
- Você não entenderia, minha senhora. Prefiro continuar-me omisso.
- Acredita ou não?!
- Por que eu deveria acreditar nele?
- Perdoe-o, Deus! Como pode mencionar o Todo-Poderoso assim: “nele”?
- Senhora, infelizmente, não possuiste os pré-requisitos para me compreender. Vive na escuridão do conhecimento. Está presa na caverna e nem ao menos pode ver um sinal de luz em sua saída.
- Escuridão?! Está repreendido esse maligno que o usa. Está sendo usado pelo demônio!
- Viu, senhora!? Não falo das trevas quando me refiro à escuridão. Está alienada! Depois de tudo que a ciência demonstrou, comprovou... Muito do que a Igreja esconde foi revelado. Em pleno ano 10 ("sempre quis dizer isso, leitor"), a minha ciência ainda é desvalorizada desta forma.
- Deus tenha piedade da tua alma!
- Eu não tenho alma, tampouco a senhora! No máximo um espírito social! A ciência nos move... O que seria do homem sem ela? Definitivamente, não é "deus" quem alivia as dores da sua artrite, é o homem!
- O HOMEM NÃO É DEUS!
A discussão terminou sem consenso: a senhora desrespeitosamente se retirou. Sem comoção alguma, todos os argumentos sólidos do professor apenas levaram-na à repulsa e à pena daquela pobre alma. Como de costume, o professor retornou à sua casa, fracassando mais uma vez na pregação do seu “evangelho científico”. Logo, repetiu para si mesmo: “Professor, tenha mais autocontrole, só mais um pouco de autocontrole... Perdoe-na, pois ela não sabe o que faz”.
Estressadinhos esses personagens, hein?!
ResponderExcluirOlha... gostei! Se tem ateo no meio eu já acho que a opinião tem mais realismo... eu e os meus preconceitos... não menos significantes que o das personagens deste gole, né?!
O eruditismo do ateo e a fé cega da senhora são ótimos combustíveis para o preconceito. E ainda ouso dizer que são equivalentes neste aspecto.
Gole que gera a reflexão é gole de verdade!
BRAVO!
Até!
Nunca ousaram tanto... Mas pode ser a fé certa ciência do desconhecido. Não que haja certeza em tudo que se diz, mas quem sabe essa não é uma maneira de Deus se mostrar: através das indagações sobre Ele. Bom texto, Jonatan.
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