Um embrulho plástico no canto do cômodo desocupado da casa, já se fazia notar mesmo para quem estivesse no quintal. Uma medida desesperada, já pressupondo suposições dos vizinhos, antecipa a ocultação daquele fardo. Os cães do quintal se alarmavam.
Na noite passada um cara alto e negro retirou do embrulho uma peça mole e encharcada de um líquido espesso e lançou-lhe aos cães. Os animais agitados lutavam por resquícios da peça. Este mesmo ato ainda se repetiu duas ou três vezes pelo homem.
Dois dias antes... Da minha janela consigo ouvir uma agitação na casa vizinha. As outras pessoas da rua temem o proprietário. Dizem que ele é ex-policial. Não conheço o passado tampouco o presente lícito ou não deste sujeito. Sei que por duas vezes me olhou nos olhos com ares de reprovação. Deste dia em diante passei a notar os movimentos da casa ao lado.
A rua onde moro é pacata. Gosto de estar por aqui a olhar o movimento que acontece vez ou outra. Minas Gerais tem mesmo este ar de melancolia na poeira que levanta do chão de terra batida. Ao longe se aproxima um senhor, ele é negro e alto. Nunca o vi por aqui, pensei. Acompanhei cada passo até que me notou. Em um instante apenas, vi os olhos reclusos desse homem atravessarem os meus como quem interroga um fugitivo. Ele não disse nada, passou por mim como que por uma pedra.
Depois do que parecia ter sido uma festa, o clima da casa ao lado ficou tenso. Não fico mais exposta como antes. E daqui onde estou vejo pouco. Ouço os cães mais mansos e alguém que me parece jovem demais resmunga o tempo todo. Ensaio uma denúncia anônima, mas ainda não tenho suspeita de que crime seja...
Sequestro e assassinato.
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ResponderExcluirSe você estava procurando uma história repulsiva e sórdida, achou! É bem a sua cara inventar um lado desconsiderado de um fato pavoroso. O texto é muito bom para figurar personagens tão repugnantes. (Usei tantos advérbios...) Gostei, quero mais!
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