segunda-feira, 26 de julho de 2010
OFF
quinta-feira, 22 de julho de 2010
O Melhor Amigo
quinta-feira, 15 de julho de 2010
O crime da casa ao lado
Um embrulho plástico no canto do cômodo desocupado da casa, já se fazia notar mesmo para quem estivesse no quintal. Uma medida desesperada, já pressupondo suposições dos vizinhos, antecipa a ocultação daquele fardo. Os cães do quintal se alarmavam.
Na noite passada um cara alto e negro retirou do embrulho uma peça mole e encharcada de um líquido espesso e lançou-lhe aos cães. Os animais agitados lutavam por resquícios da peça. Este mesmo ato ainda se repetiu duas ou três vezes pelo homem.
Dois dias antes... Da minha janela consigo ouvir uma agitação na casa vizinha. As outras pessoas da rua temem o proprietário. Dizem que ele é ex-policial. Não conheço o passado tampouco o presente lícito ou não deste sujeito. Sei que por duas vezes me olhou nos olhos com ares de reprovação. Deste dia em diante passei a notar os movimentos da casa ao lado.
A rua onde moro é pacata. Gosto de estar por aqui a olhar o movimento que acontece vez ou outra. Minas Gerais tem mesmo este ar de melancolia na poeira que levanta do chão de terra batida. Ao longe se aproxima um senhor, ele é negro e alto. Nunca o vi por aqui, pensei. Acompanhei cada passo até que me notou. Em um instante apenas, vi os olhos reclusos desse homem atravessarem os meus como quem interroga um fugitivo. Ele não disse nada, passou por mim como que por uma pedra.
Depois do que parecia ter sido uma festa, o clima da casa ao lado ficou tenso. Não fico mais exposta como antes. E daqui onde estou vejo pouco. Ouço os cães mais mansos e alguém que me parece jovem demais resmunga o tempo todo. Ensaio uma denúncia anônima, mas ainda não tenho suspeita de que crime seja...
Sequestro e assassinato.
quinta-feira, 8 de julho de 2010
O HOMEM NÃO É DEUS?!
Certa vez, na monotonia de domingo agravada pela solteirice e a infertilidade, o professor resolveu ir à missa após corrigir algumas avaliações.
Chegado lá, ficou perdido na sequência dos ritos católicos. Tudo que pode constatar foi arrogância autocrática, além de muita ignorância e o revezamento de ordens (“podem se assentar/levantar”) de um padre que evitava o sono desconcertante dos fiéis. Ao final, já nervoso com tanta hipocrisia, foi abordado por uma velha senhora:
- Meu jovem, percebi que ficou apático durante o sermão. Anuía com a cabeça a todo instante, negando a "Palavra". Por acaso, não acreditaste em Deus?
- Você não entenderia, minha senhora. Prefiro continuar-me omisso.
- Acredita ou não?!
- Por que eu deveria acreditar nele?
- Perdoe-o, Deus! Como pode mencionar o Todo-Poderoso assim: “nele”?
- Senhora, infelizmente, não possuiste os pré-requisitos para me compreender. Vive na escuridão do conhecimento. Está presa na caverna e nem ao menos pode ver um sinal de luz em sua saída.
- Escuridão?! Está repreendido esse maligno que o usa. Está sendo usado pelo demônio!
- Viu, senhora!? Não falo das trevas quando me refiro à escuridão. Está alienada! Depois de tudo que a ciência demonstrou, comprovou... Muito do que a Igreja esconde foi revelado. Em pleno ano 10 ("sempre quis dizer isso, leitor"), a minha ciência ainda é desvalorizada desta forma.
- Deus tenha piedade da tua alma!
- Eu não tenho alma, tampouco a senhora! No máximo um espírito social! A ciência nos move... O que seria do homem sem ela? Definitivamente, não é "deus" quem alivia as dores da sua artrite, é o homem!
- O HOMEM NÃO É DEUS!
A discussão terminou sem consenso: a senhora desrespeitosamente se retirou. Sem comoção alguma, todos os argumentos sólidos do professor apenas levaram-na à repulsa e à pena daquela pobre alma. Como de costume, o professor retornou à sua casa, fracassando mais uma vez na pregação do seu “evangelho científico”. Logo, repetiu para si mesmo: “Professor, tenha mais autocontrole, só mais um pouco de autocontrole... Perdoe-na, pois ela não sabe o que faz”.