UM GOLE DE IDEIAS

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sábado, 22 de maio de 2010

O COBRADOR-ESCRITOR

Ao querido escritor Júlio Emílio Braz

Escritores todos nós somos, contudo alguns escrevem ficções tão boas que a confundimos com a realidade. Eu sou o oposto disso: como todo bom auxiliar de viagem, ouvinte de acontecimentos surpreendentes, relato fatos tão esdrúxulos que qualquer leitor pensaria estar numa fantasia. Melhor explicar: auxiliar de viagem igual ao popular cobrador. Essa denominação afasta um pouco as pessoas de mim, mas rótulo é rótulo, não se escolhe. Além do mais é isso mesmo que eu faço.


Adoro o meu trabalho, porém muitos acham que minha função é meramente operacional, uma ação cansativa e monótona. Estão enganados, pois no meu trabalho, apesar dele parecer rotineiro, todos os acontecimentos que surgem são inéditos e dinâmicos – claro que nem todos. A cada dia embarco numa nova aventura. Durante a lotação, eu percebo cada evento minuciosamente; posteriormente quando a viagem tranquiliza, eu as guardo no meu caderno de anotações (que o fiscal não leia isso!).


Seria muita maldade estimular você, leitor, a ler minhas anotações e não expor ao menos uma delas aqui. Digo sempre que seria muito difícil selecionar o melhor dos meus escritos, entretanto deixarei aqui um fato que despertou minha atenção por se tratar de alguém incomum, embora eu possuísse uma grande afinidade com ele: a escrita. Certo disso, serei breve no conto.


Trata-se de um afamado escritor que, todavia, no ônibus tinha sua identidade preservada. No mês passado, diariamente ele assentava-se no mesmo lugar: no assento mais alto e no fundo do ônibus para ter uma boa visão dos acontecimentos. Demonstrando sua simpatia, ele nunca negou palavra a ninguém, fosse criança, adulto ou idoso. Certa vez, ele começou a conversar comigo, no entanto, desconfiado percebi um tom de entrevista naquele diálogo.


Anos depois, ao explorar uma livraria, encontrei na orelha de um livro estampado o rosto daquele mesmo homem. Isso foi convidativo, logo comprei o exemplar. Ao folhear a obra encontrei-me nela literalmente: tudo que eu havia dito naquela conversa estava ali descrito com minúcias.


Enfim, a minha representação naquele livro me encorajou. Percebendo que mais pessoas vêem no ambiente ônibus um universo de coisas surpreendentes, logo entrei em contato com aquele homem e mostrei o meu simples caderno de anotações. Deu certo, ele apadrinhou as minhas ideias. Hoje posso dizer orgulhosamente que sou um dos poucos a desempenhar a profissão de cobrador-escritor.

3 comentários:

  1. Aviso prévio: Esse é o Gole, na íntegra, da participação no concurso cultural Meu Amigo Rodoviário.

    Abraço!

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  2. Olá!

    Estou retribuindo a visita para dizer que o desafio de fazer os amigos do gole foi aceito...rs...envie uma foto para o meu email com todas as caracteristicas de cada um ...grande abraço e obrigado pelos comentários!

    Guilherme Bandeira
    www.olhaquemaneiro.com.br
    www.fandangossuicida.com.br

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  3. Nem preciso dizer que esse texto fora escrito, inicialmente, para participar de um concurso promovido pela empresa de transporte público da nossa cidade, não é?! Não, não sou um desmancha prazeres, tá?! Só gostaria de ressaltar que as pessoas que avaliaram esse texto não sabiam que era um Gole e nao um simples conto. Bom texto, cara!

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Muito obrigado pelo seu comentário (dose)!

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