Diziam eles que havia, no antigo bairro de Santos Dummont, um menino franzino que orava em línguas. A novidade não se dá pelo fato de um garoto pronunciar palavras aleatórias que voam boca a fora, e sim por se tratar do objeto de fé que atua em inúmeros milagres comprovadamente grandiosos. Os pais dele, orgulhosos que só, ostentavam a criança nos cultos agitados do vilarejo. A ideia de milagre parecia tão palpável que a própria mãe do menino passou a entoar as orações enquanto conversava com ele sobre as coisas cotidianas – um cotidiano de dias contados, aliás, a essa altura. O tiraram da escola a contragosto do próprio menino, diziam os pais que ele devia se dedicar às missões que o foram confiadas.
A igreja, o pastor, os vizinhos, os pais, e os irmãos, todos eles ganharam brio. O menino era olhado com grande curiosidade até pelos mais céticos vizinhos, talvez por reconhecimento da atual fama... Talvez! Digo a vocês que perceberiam a grandeza do menino só de olhar de canto de olho, e ainda que as palavras entoadas por ele eram mesmo de um tom divino. O pastor passou a pedir mais a contribuição do menino nos momentos de reflexões nos cultos. Vale perder um pouco mais de linhas descrevendo a cara do menino após esse tipo de chamado em dado momento da celebração. O menino quase sempre se desprendia da mãe com facilidade e obstinação; tinha passos firmes a caminho do altar/palco; delicadamente entreolhava o chão e o público com olhos semisserrados, espalmava uma das mãos enquanto a outra tocava o peito, e permanecia assim até atingir as palmas e os olhares contemplativos; voltava ao acolhimento fraterno sem muita cerimônia e, calado, esperava ansiosamente o amém derradeiro.
Ouvi falar num tal menino que viu a vida da janela de seu quarto. Pouco sabem de sua infância e adolescência, pouco investigam sobre isso também. Diziam as más línguas que era um ateu nato, mas a sua volta foi deus declarado. Da vontade dele pouco dizem também tampouco da eternidade que reside além do horizonte da janela. Tenho pra mim, que conto agora essa história, que a realidade dele ainda sofrerá algumas alterações.
E lá vamos nós novamente ter com e sobre o inexplicável DEUS.
ResponderExcluirÉ estranho como esse tema me tem sido constante nos últimos dias!
Em todos os lugares e com pessoas de todos os tipos sempre calha de ter esse tema.
SINAL?
Não sou nem de longe um religioso, mas não tem como negar que esse “fogo do espírito santo” quando desce arrebata todos.É sempre um mistério fabuloso e por isso mesmo irresistível!.Sim,tudo o que se relaciona a DEUS é irresistível,até mesmo para os ateus.É que nós precisamos clamar,sempre!
Acredito que o homem assim, com esses “dons” divinos de levitas ( os verdadeiros levitas ) que são boca de DEUS na terra ,não podem servir a Deus e ao mundo ao mesmo tempo.Dai esse recolhimento.Por serem almas tão delicadas quanto cristal...E nós com essa sede implacável nos tornamos ainda mais broncos!
Esse texto eu li umas 4 vezes.E todas elas foram com paixão e ao som de “Madredeus” com a música “O pastor”.Seu texto inteiro é retrato nesse fado ,lindo e fado por sinal.
Segue a letra e vale à pena ouvir essa canção!
O Pastor
(Madredeus )
Ai que ninguém volta
Ao que já deixou
Ninguém larga a grande roda
Ninguém sabe onde que andou
Ai que ninguém lembra
Nem o que sonhou
E aquele menino canta
A cantiga do pastor
Ao largo ainda arde
A barca da fantasia
O meu sonho acaba tarde
Deixa a alma de vigia
Ao largo ainda arde
A barca da fantasia
O meu sonho acaba tarde
Acordar é que eu não queria
Ao largo ainda arde
A barca da fantasia
O meu sonho acaba tarde
Deixa a alma de vigia
Ao largo ainda arde
A barca da fantasia
O meu sonho acaba tarde
Acordar é que eu não queria
Estaríamos todos nós homens (meninos inocentes) dentro dessa lenda? Todos nós manipulados pelos dogmas de uma maioria sem ao menos termos nossas verdades respeitadas.
ResponderExcluirEssa lenda me parece mais uma reportagem... isso é fato!
Talvez todos os ditos espertos abram os olhos para o mundo de incertezas que jura ser exato e verdadeiro. Assim desejo. Talvez ao menos haja o respeito para que todos possam ter a sua religião, ou nao tê-la.
Hummmm... vejo traços metalinguisticos no seu texto amigo Fabrício, será influencia do realismo em MPBC???
Que se faça o evangelho da não-religião e que respeitemos para que as crianças libertem seu poder crítico e não apenas caminhem pelas verdades dominantes.
Gole dolorido dentro da sutilidade para as pessoas que não querem olhar para o lado... ou apenas nao querem ver: cegos funcionais.
Abç!!!
Um menino que orava em línguas, rs... Você não acha que está dando muito IBOPE para um assunto fabuloso demais para voce?! Embora pareça sarcástico, o texto é bom! Com "gosto de maça na boca" foi fantástico. Me lembra Éden, rs... Ate mais!
ResponderExcluirConversamos tanto sobre este texto, pessoalmente, né?
ResponderExcluirVocê reclamou que não conseguiu fazê-lo ficar com o sentido que queria...
O mais incrível é que o sentido que você quis dar, foi o mesmo sentido que eu queria que ficasse, estranho isso, não? rs
Pareceu um texto escrito por um, mas pensado por dois (olha eu, tentado uma co-autoria! rs).
Te pedi que reescrevesse o texto, então, mas optou por não fazê-lo.
Tudo bem, pelo menos fico feliz em saber que li um texto cujo sentido que queria era, de fato, o sentido do texto.
Parabéns, amigo!