Dentre prosas velejo por mares tão distantes, tão abstratos e fantasiosos quanto qualquer insensatez do LSD ou chá do Santo Daime. Prosear deixa-me próximo de uma liberdade imensurável, em contraposição aos atraentes braços fúlgidos, entretanto limitantes da poética. Não há nada melhor do que jogarmos conversa fora com nós mesmos, escrevermos o livre pensar sem redomas de expressão!
A poesia recebe muitos gracejos, ela é meticulosamente delineada, sendo sempre vangloriada por isso. Ela é até um tanto intocável devido isso: obra do divino saber, condescendente às emoções.
Eu caminho na solidão, sou apenas acompanhado pela prosa. Gosto dela por ser intempestiva, pois não preciso de motivos e nem que esteja em momento propício à produção: amores e dores não alimentam minhas estrofes, apesar de preencherem muitos versos insinceros. Melhor confessar, leitor, que minhas jornadas em prosas não são tão solitárias: logo surgem diversos personagens que retratam os mais diversificados “eus” do deus que os redigiram. E monotonia não há: eu-líricos de todas as formas chegam a travestirrm o gênero do narrador-personagem ou até mesmo personificarem um objeto inanimado, como a minha caneta (a Caneta). A cada prosa um novo mundo nasce. A cada mundo criado e compartilhado através da leitura, novas ideias fervilham para o nascimento de outras obras semi-divinas.
Eu sou assim: universo de prosa. Ainda assim, não me distancio da estética, percorrendo numa complexa rede de palavras que provocarão êxtase, mas que só farão sentido num generoso contexto. Eu sou prosa desde os tempos da Caneta Bic, hoje quase extinta por causa dos teclados afoitos. Por amores, porém, tive que me aventurar na poesia, desbravando o léxico para encaixar as peças desse jogo fugaz: as sílabas métricas e as rimas. Eu não era muito feliz! Olha uma das que eu escrevi ainda no colegial:
“Foi paixão o que o meu corpo sentiu
quando pouco estive em sua presença.
ou apenas uma ilusão tangente
à uma inocência repleta de esperança?
Queria ao menos sua boca tocar,
tirar a prova real pelo físico,
saber pelo teu gosto o que é se apaixonar
ou apenas alimentar um coração fraco.”
Nossa! Esse poema foi desenterrado, creio ser melhor não terminá-lo? “Prova real, Tangente”... Talvez se fosse a professora de matemática quem tivesse iludido a minha inocência repleta de esperança, talvez até fosse um poema inteligente. Apesar de não ter valor estético essas grandes frases apenas fragmentadas. O fato é: acho que eu nem sabia o que significava tangente, apesar de ter se encaixado tão bem. E talvez eu nunca tivesse “esperança” alguma, se esta palavra cheia de significado não rimasse com “presença”. Percebe o engessar da minha poesia? Você acaba navegando para um discurso que não te pertence e naufraga em emoções um tanto mais aquém ou além da sua real expressão. Quantas pessoas já não recitaram “amar” só porque esta palavra é tão fácil de rimar?
Você deve está pensando agora: “aonde ele quer chegar com isso?” Devo não mais prolongar esse texto e logo me explicar.
Simplesmente o tempo foi passando... Tentava através da poesia conquistar ou manter meus relacionamentos. Amores vários nasceram forçados pela minha rima poética, mas logo se acabavam, deste modo mais versos deveriam ser criados para novas conquintas. Foram muitas conquistas! Claro, que muito menos do que tentativas amorosas falhas. E foi assim que a necessidade fez-me poeta. Tudo bem que eu era um free-lancer de mim mesmo: escrevia para meu alterego conquistar paixões. Mas, não é que juntando todos os meus poemas eles renderiam um livro (mais pela quantidade do que pela qualidade)? Uma editora aceitou o meu projeto “Ensaio de um poeta vivo”, antes de aceitarem as minhas prosas cheias de liberdade de expressão e conteúdo.
Enfim, veio a publicação do meu livro de poesia, diria o meu primeiro ensaio como escritor profissional, contudo não sabia se alguém, além da minha mãe e minhas tias solteironas, o compraria. Mas compraram... e muito! E hoje em dia a poesia faz parte do meu trabalho: com as vendas a editora me pressionava para novas publicações e começaram investir no meu nome. Queria ter dado certo com os meus romances, porém a editora ainda não acreditava neles e falavam: “vamos dar um tempo pro seu nome se estabelecer”. Claro, chegaria um determinado momento que as pessoas comprariam até literatura de cordel escrita no papel higiênico de um renomado - e essa sempre foi a minha grande crítica.
Hoje conquistei a almejada fama. Sou convidado para participar de muitos eventos sociais e blá. O lado bom disso é que ganho um bom dinheiro, apesar do meu engendramento literário. Mais sabe o que é o mais legal disso tudo? É que os poemas que antes foram fracasso nas minhas conquistas (a grande maioria delas), hoje conquistam inúmeras pessoas.