Havia a Flor, em meio às inúmeras de um imenso jardim. Tulipas, margaridas e até mesmo lírios, alvíssimos como a nuvem no céu. Mas esta Flor, em particular, chamava a atenção do menino. Quando criança, não sabemos dizer certas coisas. E, neste caso, não seria diferente. Ele não sabia explicar porque a Flor despertava nele um interesse diferente.
Um brilho cintilante emanava das pétalas simples. Não havia espinhos nem outras imperfeições. Lisa eram suas pétalas e um cheiro doce e inebriante destilava do centro da Flor. Ela era, de fato, a mais bela. O jardim ao redor tornava-se somente uma moldura do destino dos nossos olhos oblíquos e profundos. A Flor estava ereta e se envolvia numa beleza inominável.
Um senhor havia dito ao menino que se ele gostava tanto dessa Flor, ele deveria aguá-la, já que somente ele podia entrar nesse jardim. Porém, ele se contentava em admirá-la. Como quem observa um nascer do sol, um arco-íris ou um dia de chuva, ele não precisava estar tão perto assim da sua Flor. Ela precisava estar lá e ele, no lado oposta da rua pavimentada, a olhava.
O tempo passou e tudo mudou. O menino era homem grande, o jardim era terra solta e revirada, e a Flor estava decaída e morta. Ao vê-la assim, o ânimo do homem grande murchou ao passo que as pétalas da sua Flor preferida murchavam também. O senhor, que o havia advertido no passado, caminhava pela rua pavimentada e o reconheceu submerso nas marcas do tempo.
Ele o abraçou e disse, enquanto o homem grande enxugava as lágrimas translúcidas que escorriam dos seus olhos: “- O não molhar a Flor foi quem trouxe as lágrimas. Não a imagem que agora vê dela.”O homem grande soluçou alto e suspirou pelo tempo perdido. Podia ter aguado sempre que precisasse. Mas contentou-se somente em olhá-la. “Só olhares e palavras não mantêm vivo um amor”, disse o senhor afastando-se.
É engraçado, mas ainda insisto em escrever e-mails em formato carta. (Acho que você se acostumou) Decidi escrever a você hoje, pois ficarei longe de ti por alguns dias... semanas talvez. Essa mensagem é esclarecedora e finalmente você saberá que trabalho me exigia tanto sacrifício.
Iniciei uma pesquisa há dois anos. Decidi, por questão de sigilo mesmo, dividir o trabalho em núcleos, laboratórios diferentes, de forma que mesmo eles (membros da equipe) não tivessem acesso ao todo da pesquisa. Desse modo, recebi ontem o último resultado... o laboratório da Europa finalizou o quebra-cabeça. Descobri uma combinação de fatores (simplificando linguagem para ser entendido) que elevará a ciência, podendo até chegar a cura de doenças incuráveis até então.
Eliza! sei que o material que carrego comigo agora é de valor inestimável e que outros laboratórios também se interessam e tentaram de algumas formas me sabotar. Por isso peço que mantenha este e-mail entre nós dois até que consiga resolver a papelada da patente. Confio em você!
Escrevo este e-mail daqui do aeroporto mesmo. Acabo de resolver tudo. Daqui a pouco embarco para Paris. Vai ser uma boa oportunidade para revisitar o meu francês que pensei ter aposentado. Quando me acomodar no hotel onde ficarei, lhe mando outro e-mail só pra confirmar que cheguei bem.
Enfim, gostaria de tê-la comigo. Tenho saudade! Penso sempre em você com uma estima incomparável. Eu te amo, muito! Quando retornar da Europa quero um jantar comemorativo. Podemos aproveitar e oficializar o noivado entre nossos amigos. Agora tenho que ir... já anunciaram meu voo.
Até a volta,
Beijos!
[Atenção passageiros, última chamada para o voo: AF 447]
- “Eu vejo sentimentos, os verdadeiros sentimentos das pessoas - sussurro.
- Com qual frequência?
- Todo o tempo”.
***
Há algumas décadas que sou assombrado pelas couraças da verdade, ainda que estas estejam ocultas no mundo do amor. Haja visto que o amor é cego – surdo e mudo.
Quando assisto o tal sentimento, vejo-o em preto e branco, ao passo que as pessoas relatam visualizarem um mundo de cores, vivas e intensas. Tomando um empréstimo de uma das metáforas do Jabor, eu diria: o amor pra mim é analógico, para os outros, digital.
Lá estão meus avós. Fortalecidos matrimonialmente pelas bodas de ouro. É de se invejar – todos pensam. Muitos se espelham nesse relacionamento, que perdura, que é à prova do tempo. Mas quando olho para aqueles dois velhinhos, já faço minha leitura, distante dos olhares cegos e encantos do outrem:
- “Cinquenta anos de convivência, hem!? Como pudemos nos aguentar? - vovó diria.
- O matrimômio foi o nosso contrato. Tivemos testemunhas para que todas as cláusulas fossem respeitadas. Além disso, filhos. Nossos filhos afastaram quaisquer esperanças de quebrarmos o nosso contra-ato 'amoroso' - respoderia vovô”.
Mas isso se sucedeu há meio século, porque hoje... nada segura ninguém. Talvez culpa da independência feminina e do espaço cada vez delimitado do universo masculino. Sei lá!
Outro dia, na praça, aquela aonde rodam os namorados, vi um casal unido pelas mãos. Uma amiga logo se pronunciou:
- “Oh! que casal mais lindo. São perfeitos! Olha como eles se olham enquanto caminham”.
Fui obrigado a respondê-la à meu olhar.
-”Não, eles não são perfeitos! Discutem na maior parte do tempo quando se encontram. Ah! e eles não estão caminhando, não. Estão desfilando. Vê como seus narizesestão empinados? Então: um ostenta o outro, como se fossem peças da vitrina de uma butique famosa. São apenas marketing social”.
O universo amoroso é hipócrita. Cheio de máscaras. Impressiona-me como esse sentimento míope motiva tantas graças. Mas, como?
Enfim... Hoje é dia dos namorados. O comércio agradece. As indústrias sexuais- Motéis, sexy shop, bombonieres, floriculturas, perfumarias, etc - agradecem. Este é o dia intermediário às idealizações e à realidade: o amor incondicional hoje é manifesto ativo em todas as castas, isto posterior à cinco meses de “trancos e barrancos” e anterior à frustrações quando revisita-se as juras de amor nunca cumpridas.
Quantos olhares me definham... Intitulam-me como atípico, anormal, por causa da minha posição. Digo, do estado civil pelo qual opto, este que provém da habilidade do “olharalém”. Sou o não-namorado, um extraterrestre. Existe tanta pressão para que eu me candidate ao PHA (Partido dos Hipócritas Apaixonados)? Pra quê? Será que sofrer por amor me trará vantagens? Não. Todos os casais são grandes masoquistas - alguns sádicos.
Sabe? A paixão é uma grande eliciadora de psicopatologias: ficam obsessivos compulsivos pelo Outro, autistas para o mundo e depressivos para consigo mesmo. Depois de todas esses acometimentos mentais-sociais, ainda assim eu sou visto como um louco, o anormal. Pois é, acho melhor ficar com minhas loucuras. Ficarei com os meus pensamentos e minhas percepções do amor, assim mesmo, solitário. Um dia alguém me entende.
É com pesar que o 'The Num Gole Times' comunica o falecimento da potência religiosa que movia multidões de fiéis em todo o mundo e, que altivamente vigorava supremacia em nosso Brasil. Morreu nesse mês, com seus dois mil anos, o Cristianismo.
Do prelúdio bíblico (o livro de Gênese) emergiu o surgimento universal, tendo como seu criador, Deus (o Pai de Cristo - que também seria o próprio Cristo. Não me pergunte como!). Contudo, Cristo seria apenas a sua terça parte, apenas um pilar da santa trindade. Em suma... o todo poderoso criou-nos ao longo de seis dias e, logo depois tirou um descanso.
Contudo, sua obra não foi perfeita: Primeiramente o anjo que jurou-lhe lealdade, rebelou-se e transmutou-se em demônio. Secundando, o tal Diabo em forma de serpente seduzira os primeiros moradores da terra: Eva comeu a maçã proibida do Jardim do Éden, contrariando seu criador. Logo, disseminou-se o pecado e as dores para toda humanidade.
Como em tão pouco tempo as criações voltaram-se contra o seu criador, o onipotente? Não sei. Contudo, ocorre-me que isso não pararia por ali. Por ora, no século XXI, no ano de 2009 para ser mais preciso, uma surpreendente rebelação aconteceu: o anjo caído ainda seduz.
Agora, mais evoluído, o Diabo não mais metamorfoseou-se em serpente, mas sim numa figura humana: a Popstar Madonna foi sua escolhida. A cantora, recebeu a proposta de vidaeterna com qualidade, afora beleza e volúpia, para o tinhoso roubar-lhe sua identidade, incorporando-a. Portanto, podemos presenciá-la aos seus cinquenta e tantos anos, ostentando um corpo de dar inveja a numerosas ninfas, adolescentes; além de contorcer-se em seus shows como uma yogin experiente na prática do Hasta Yôga.
E... Finalmente, o Diabo transmutado em Madonna, planejou eficazmente uma armadilha: uma turnêpeloBrasil. Como assim o Brasil, o leitor se pergunta? Respondo: Depois de tantos gritos brados e orgulhosos de que “Deus é brasileiro”, facilmente o Diabo alarmou-se quanto a localização da sua próxima vítima, Jesus, o Pinto da Luz... E realmente ele residia aqui no país do Carnaval - a propósito os evangélicos dizem que esta festa é financiada pelo próprio “Coisarruim”, assim, o Diabo sentiu-se em casa. Ratifica a louca, denominando o Brasil de “O Quinto dos Infernos.
Jesus - Pinto da - Luz, de naturalidade inegavelmente brasilêsa, era um jovem modelo que desfilava sua beleza nas passarelas obscuras por cantos brasileses. Entretanto, sua ambição era tamanha, que só faltava-lhe oportunidades para mesmo vender sua alma... Foi quando o jovem, recebeu um chamado tentador: comparecer numa Boate (antes conhecida como Jardim do Éden) aonde poderia encontrar-se com a popstar. Lá, ele deparou-se com a cantora cinquentona, que usou suas armas para seduzi-lo: ofereceu-lhe voga, sucesso e, claro, o seu belíssimo corpo plástico. Jesus, pensando que obteria vantagens, aceitou-os sem medir consequências. Por consequinte, imediatamente os paparazzos colocaram-no em alvo e, logo as buscas por imagens no Google ® estavam repletas de suas fotografias.
A cada dia, Madonna obtinha mais poder pelo rapaz... Logo, depois de algum tempo, o inacreditável veio a acontecer – como planejado: Jesus, o criador do Cristianismo voltou suas costas para a sua religião e, consequentemente para o seus fiéis que imortalizaram-no através de orações. Jesus converteu-se ao ocultismo da Cabala. ...Madonna tem mesmo poder, oh!
O mundo, que outrora inspirava dúvida, por meio dos céticos da arte, da ciência e da Filosofia com grandes e polêmicas obras – como por exemplo, 'O Código da Vinci' do romancista Dan Brown e 'O Anticristo' do filósofo contemporâneo Frederich Niesztche -, agora expira de vez a sua incircuncisão: a Bíblia Sagrada inutilizada.
Impressiona-mos como Jesus 'agiu de má fé'. Traidor! Converter-se apenas, não o satisfaria. Teria que apelar para o atípico, para ocultismo israelita. Se ainda fosse para 'O amor, a humildade e a caridade' da Umbanda, nós brasileiros nos confortaríamos – ainda que pelo sincretismo religioso. Todavia, tudo que ele nos prometeu um dia, caiu por terra. Agora já não temos mais fé, já não temos mais esperança. Em fim, já não temos mais o Cristianismo. O Cristianismo foi afogado em/pelo seu próprio sangue, o 'Sangue de Cristo'. Jaz aqui, como num gole, uma religião".
-Que foi agora, seu imbecil? Mamãe não te deu dinheiro de novo?
-Ah! Vê se não enche! Acha que meus problemas se resumem a dinheiro, ou a falta dele?
-Sei que não, aliás, você tem mais problemas do que imagina!
-Você é um babaca, cara! Sempre me coloca pra baixo, pô!
-Tadinho... Desculpa dizer, mas quem te coloca pra baixo é você mesmo.
-Você nem sabe o que ta dizendo, virou psicólogo agora?
-Posso não ser psicólogo, mas não sou eu o louco.
-Agora ta insinuando que eu sou louco, é?
-Bem, não sou eu que quero tirar férias de mim mesmo...
-Eu to confuso, porra!
-Vai surtar agora? Olha que seus amigos e sua família esperam por isso há algum tempo.
-Não duvido que isso seja verdade... Pô, tudo dá errado na minha vida!
-Sua vida é que ta errada, seu imbecil!
-O que quer dizer?
-Nunca reparou que só conversa comigo quando está mal, confuso? Se está estressadinho, sou eu quem você chama.
-Você é meu melhor amigo, por isso procuro você!
-Eu não sou seu amigo, mas sou sim, a melhor parte de você! Como eu queria que você se submetesse a mim! Se eu estivesse no comando, sua vida seria muito melhor, sabia? Mas não estou!
-Agora quer mandar em mim, me controlar? No que isso melhoraria minha vida?
-Pra começar, ganharia as férias de si que tanto deseja. Do contrário, ao menos ficaria em segundo plano, como tenho ficado.
-Não entendi...
-Um dia entenderá, eu espero!
[Minha mãe chega de repente, assustada] -Lucas, por que está falando sozinho?
Hoje, dia frio, saí para caminhar e esquecer pensamentos que enfatizam a noite. Encontrei-me com um senhor alcunhado Casmurro, o Dom. Falou-me de sua vida e de suas desconfianças... falou da solidão da vida madura e me vi retratado nela, infelizmente. Servi-me dos seus conselhos, e tratei de ocultar minhas comparações. Aquela sessão mútuo-analítica durou bastante, suponho. Despediu-se de mim e me deixou ancorado nas dúvidas que o assolavam.
Ainda na carona de meus próprios pés cruzei caminhos antes tão desconhecidos. O cemitério da cidade é logo ali. Um jovem empunhava um crânio, e parecia dizer coisas sozinho... Aproximando-me aos pouco quis tentar ver de perto seus problemas, mas este menos sociável que o outro, reagiu com surpresa a minha presença. Suas roupas pouco combinavam com atualidade, parecia saído de um filme de época. Misteriosamente ofereceu-me bebida, absinto, e eu cuidadosamente bebi e me retirei. Ao me virar ele se apresentou, e eu segui como quem não se importava com o fato estranho. Nunca mais ouvi falar em Hamlet.
Sei que procurava alguém para depositar meu pensar, queria mesmo dividir um pouco do peso que carrego, mas meus pés já davam sinais de esgotamento. Resolvi dar uma última volta e perto da praça encontrei uma princesa tatuada. Ao aproximar-me fui cauteloso e ela exigia cada vez menos. Seu nome? Fernanda Young. Ela cria coisas. Disse já ter ouvido falar que os dois, ai de cima do texto, eram personagens. Achei a princípio que ela estava chapada. Mas desde então me vi banhado em ópio. Destes que seduzem os olhos fixos de uma esfinge. Fui navegar outras vezes em seus pensamentos, quase sempre acessíveis... mas quando ouvi tuas confissões/poesia tive certeza que não conseguiria mais amar aquela mulher. Desde então me entupo de seus livros, textos...
A caminhada é cansativa. Os pés estreitos e cascudos anunciam que já viram muito, e querem mais. Sob os pés o passo, e do passo um novo caminho. A cada palavra que meu pé escreve denuncia a própria mão de errante. O ser se nega, e se constrói. O caminho passa como em uma esteira rolante. Personagens do próprio passo.Descompasso. Abri os versos e saiu uma prosa. Coisas da vida! Hoje uma caminhada errante me botou a pena na mão.
Escritores que emergiram de uma simples ideia: expô-las. “Tudo vira Gole” – esse é o nosso lema. Sem mordaças e enclausuramento temático, fazemos de qualquer assunto uma rica produção: do humor a tragédia, das criticas sóbrias ao desdém.
O primeiro gole de ideias...
- Um copo de uísque! – Pede o moço, com uma capa de chuva escura, respingando água pelo assoalho desbotado. - Temos idéias! – Disse o garçom aparecendo, com uma flanela ocre, cheirando a desinfetante. O cliente deixou o guarda-chuva cair. Balançou a cabeça, de forma resignada e disse: - A minha, então, é dupla e sem gelo!
Embriaguem-se de grandes ideias!
O que acharam da nova "cara" do blog?
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