Começo a me confundir com os pecados que ele me aponta. Acho que quando ele me fita os olhos já não me admira como naquele dia em que rabiscava no muro nosso nome. Tudo anda tão mudado. A forma dos desejos, e como ele vem a mim, já são decorados. Tenho uma espécie de dor que não sai do peito. Ainda ontem o tentei abraçar, mas o peso do seu ofício não lhe permitiu que levantasse os olhos.
Vejo o mesmo horizonte da janela. Esses mesmos olhos, esses mesmos pensamentos... Anseio por uma visita dos nossos inseparáveis amigos. Minha amiga, ela sim, sempre tão viçosa. Parece-me que a angústia não costuma visitá-la. O marido dela tão fiel e desejoso dos afagos dela que chega a me atormentar uma pontinha de inveja.
Lembro-me de Bento quando penso em amor, mas em matéria de desejo me falta algum ardor que ainda não tenho notícia. Suponho eu que exista forma de manter esse quê de pecado ainda fora daquele universo de beatices que Dona Glória o incutiu. Nossa adolescência passou depressa por entre as nossas vidas. Da minha barriga veio um lindo garoto. Bento o olha diferente, não sei o que se passa. Estamos juntos faz um tempo e ainda não tenho acesso ao mundo de introspecção que é a mente dele.
Há uma nuvem, que me parece desconfiança, entre os nossos olhares. Não consigo encontrar a pureza que refletia dos olhos dele. Parece-me que lhe falta vontade, deve ter enjoado de mim. Certa vez confidenciei isso a Escobar, que me escutou atento. Ele me olhava nos olhos e confesso que por algumas vezes deixei que tocasse meus ombros e que aproximasse a boca de meus ouvidos. O vapor das palavras afagadoras dele me causou diferentes sensações. Ocultei o que sinto a mim mesma e logo encerrei o assunto.
Fiquei a pensar. Comparando e medindo tudo que sinto. Vi Sancha sorrir provocativamente a Bento, não fiz nada. Torturei-me com essas lembranças. Boas e más demonstrava-me caminhos ocultos que manteriam tudo em seu devido lugar. Confesso que a partir deste momento fui tomada por uma vontade que ainda não conhecia.
Acabou? Mas... E essa vontade, será que se fez verdade!? Vontade todos nós temos, que o diga as beatas (morada de vontades sem consumação).
ResponderExcluirVou ficando por aqui cheio de dúvidas... Achava a Capitu um tanto desonrosa e nunca vi o merecido respeito ao seu amado, o que ne levava a acreditar na traição... Mas agora vejo que naqueles olhos de cigana obliqua e dissimulada havia certo respeito... Se ela medita tanto sobre o que sente, talvez não tenha dado fim a suas vontades.
Ótimo gole machadiano... é o gole a cada dia ficando mais erudito e clássico...
Abraço...
PS: não, não me vi em nada aí. rs
Não li o texto original, mas gostaria de ler mais sobre isso - só isso, rs... Bom texto, Fabrício. Como sempre vendo de um ângulo diferente dos demais... Ate mais!
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