UM GOLE DE IDEIAS

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domingo, 7 de fevereiro de 2010

Eu palhaço

Comecei a me vestir duas horas antes do horário combinado. Acho que na minha vida inteira nunca tinha demorado tanto, ou ao menos nunca tivesse dedicado tanto tempo a essa tarefa. A fantasia? Palhaço. Nada mais típico e adequado a mim. Curti tanto aquilo de me maquiar. Coisas de homens quando são submetidos a essas frescuras todas tipicamente femininas. Calças largas, peruca careca no meio, nariz vermelho, e frases engraçadas... essas não fantasiei. São as minhas velhas frases, ou o pedaço palhaço que posso mostrar mesmo quando a fantasia é de vida real.

Fui sozinho. Pretendia encontrar algumas pessoas no centro. Eu precisava passear com o meu palhaço declarado no meio da vida normal. Essa era minha fantasia. Antes de chegar ao ponto fui comprar um chiclete. Há tempos não compro chiclete. As pessoas me olham, eu decido sorrir, elas me conhecem... todas. Aguentei umas comparações já esperadas, os mais antigos gritavam bozo, nenhuma criança de hoje sabe o que é isso.

De longe avisto o ônibus lotado. Parece que ninguém sai de tão longe fantasiado pra uma festa do outro lado da cidade. Pois bem, esse era então o objetivo central. Escada, roleta, desvio de uma senhora com uma criança que ri, e me alojo bem no meio do coletivo. Risinhos, estes menos puros que o da criança de antes, tentam me incomodar, mas hoje o dia é meu. Tirei uma flor do bolso e entreguei a criança que me sorrira. Decidi matar o sorriso que tentava sustentar como que para decepcionar quem me taxasse. Eu matei o palhaço mim mesmo, e com isso vi o horror do riso por dentro.

Tudo já era divertido demais pra terminar melhor. Fui descendo do ônibus, cheguei ao local combinado. Não havia ninguém. Não gosto e não sei esperar por ninguém, mas a solidão do palhaço me afetava grudando meus pés ao chão. Acoei o palhaço numa sombra e descansei o bom humor. Lá longe vinha um militar e Vilma Flintstone. Minha companhia. Fui tendo com os outros fantasiados. Deu saudade de ser notado. Tentei arrancar umas risadas do sério soldado, Vilma me impedia, e ele parecia mesmo estar envolvido com o papel. Lembrei do riso visto de dentro, mas a felicidade deles era simples demais para essa tamanha complexidade.

Ao entrar na festa ri de muita gente feia achando que tava arrasando. Ah sim, tinha muita gente bonita também. Tenho meio que um ódio de gente bonita. As mulheres decotam mesmo os vestidos e blusas a ponto que uma freira pareceria fetiche de um filme das brasileirinhas. Os caras, de abdômenes tanquinho, arrumam qualquer desculpa para arrancarem as camisas. Isso quando não vêm sem de casa mesmo. Enfim... O cenário era a mesma coisa sem graça de sempre: luzes piscando, fumaça, som alto, conversa gritada, voz rouca no dia seguinte.

Fugi de algumas danças na desculpa de comprar cerveja pra gente. Ora somava mais uns outros, ora só nós três mesmo nos divertíamos. Odeio gente que leva festa a sério. Vilma parecia meio tensa quando observava o meu próprio silêncio diante do caos. E isso não é desânimo respondo eu a ela só que pelo olhar. Lógico que ela não entendeu. Sabe... eu dancei, mas não posso chamar isso de me acabar. Confesso que me surpreendi com aquela doideira toda. A certo ponto da noite o BEN 10 vomitava do lado da mulher maravilha. Bizarro!

Nasceu o dia e crepusculei meu corpo. Já não era mais festa. Maquiagem borrada, garrafas vazias jogadas, pontos de ônibus cheios, taxis escassos... Muitos iguais cambaleiam, muitos riem sozinhos, muitos roubam minha fantasia agora. E eu rindo por dentro me despeço da companhia e me disfarço de mim em frente ao espelho a base de água e coragem.

6 comentários:

  1. Hummmmmm... Agora remontando o verdadeiro objetivo de um Blog q no Gole não é respeitado? Qual? Diário! Como assim, vc estava lá... nem o vi. Fabrício, vc está saindo um perfeito visionário (espero que seja isso, pois senão as nossas festas andam um tanto previsíveis [um agravante é nunca termos ido a nenhuma]).

    Não é brincadeira, eu estou assustado... será que teve cobertura pela TV... Ainda assim, as o baile de emoções fantasiadas não poderiam ser representadas por imagem e audio.

    É, Palhaço, alguém está virando bruxo - daqueles que tudo veem. rs

    Parabéns pelo Gole... adorei! Só que vale prestarmos mais atenção nele. Pq talvez estejamos escrevendo nossas festas antes de vivenciá-las... estamos nos fechando em emoções ruins e não deixamos o palhaço representar o que sabe fazer melhor: fazer/ser feliz.

    Baile do Cafona estaremos lá... fazendo muitas palhaçadas!!!

    Abraço!!!

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  2. Graças a sua perfeita e realista descrição/narração, fiquei aqui pensando, será que o Fabrício foi ao baile?
    Não, claro que não!
    Ele jamais iria ao baile fantasiado de palhaço... né?
    E eu, que estava lá na porta do baile fantasiado de corajoso!
    Não precisei de maquiagem, só de uma carapaça invisível que protegia o Lucas daquele ambiente "hostil".
    Engraçado, parece que nós dois fomos a este baile com nossas melhores fantasias, nos divertimos pra valer e agora estamos saudosos pelo fim da festa...
    Gostei do seu texto, cara, de verdade!

    Parabéns!

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  3. Olha só, vc já sabia com que roupa ir, a maquiagem q ia usar, não precisou fazer nada no cabelo e mesmo assim levou duas horas pra se arrumar! É bom pra não reclamar depois! rs
    Ah... Todo o clima pré-baile... A ansiedade pra “se acabar”, as expectativas do baile perfeito... Tudo tão bom!

    Cenário sem graça? Impossível! Pra um palhaço, esse até que é bem careta!

    Tenho a impressão de que a Vilma não se divertiu muito... Faltaram bebidas ou faltou uma boa companhia: um soldado que se empenhava em parecer sério e um palhaço quase paralisado, absorto naquela realidade fantasiada.

    Que a experiência valha para melhorar o baile do próximo ano.

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  4. Parabéns pelo texto. Li duas vezes e ainda tenho dúvida se isso é ficção ou realidade, muito bom seu texto...
    E o palhaço.. se você ainda não viu, indico o filme Doutores da Alegria, é ótimo. O palhaço é aquele que pode errar, é aquele que não mistura emoções... acho que é aquele que muitas vezes queríamos ser mas não podemos, não temos o nariz vermelho..

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  5. Fiquei me perguntando por que não o encontrei lá... hahaha
    Parabéns!

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  6. bom texto!! gostei, parabéns! :D
    não importa se ficção ou realidade
    já que ambos são Ilusões da realidade.
    Me pareceu que vc captou um ângulo negativo
    do evento ocorrido, mas não tenho certeza.
    Se eu estiver certo trata-se então de uma desIlusão.
    ABÇ!!! se estiver afim visite meu blog, vlw!

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Muito obrigado pelo seu comentário (dose)!

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